sábado, 17 de outubro de 2009

Aquela voz que calada diz tudo


Esses gritos, essa música, essas afirmações...
Onde está a voz que procuro?
Eu te procurava, mas não foi Você que eu achei.
O som da batida na janela do carro me faz ver o cenário do inferno.
Não é preciso morrer para vivê-lo.
É apenas mais uma de várias cenas de terror do nosso cotidiano. Um filme repetido, que ainda me assusta. E eu nunca gostei de filmes de terror.

Através do vidro vejo um menino que treme.
Vejo pequenas mãos negras que trabalham solitárias para tentar agasalhar essa criança.
Vejo olhos grandes e em alerta, com um pedido de socorro querendo quebrar esse vidro.
Essas mãos tão sofridas e tão jovens pedem ajuda todos os dias. Pedem amor. Pedem atenção; socorro!

Quando eu tinha aquela idade eu tinha medo do escuro. Meu cachorro também tinha.
Mas e ele?Ele tem o direito de ter medo de alguma coisa?

Não tenho misericórdia de você que levou um pé na bunda e quis morrer.
Nem de você que fez as escolhas erradas.
Muito menos de você que tem medo até da própria sombra.
Me mande para o inferno, porque é pra lá que eu m
ereço ir.
Porque eu tenho misericórdia apenas dos francos-fortes que vejo através desses vidros escuros. Esses com pele negra, magros por força do destino e não por opção.
Desses pobres coitados que não tiveram um beijo de boa noite.
E que "polícia e ladrão" não é um simples jogo.

Santos hipócritas ou cegos? Algumas moedas doem tanto para sair de seus bolsos?
Será que alguns sacrificados centavos, troco da cerveja e do cigarro, matará a fome deste menino?
É tudo o que você pode fazer? "tome esse dinheiro, e que Deus te abençõe".
É tudo o que posso fazer? Minhas mãos são tão inúteis a ponto de não serem capazes de fazer algo mais?

-Deus! Todas as outras dúvidas se resumem a nada quando vejo isso. . Essas lágrimas não vão mudar nada. Mais um discurso também não.
Ele continua com frio mais essa noite.
Tudo o que tenho é uma voz.
E eu não posso fazer mais nada que o salve.
Só Você pode. Salve-o, Deus.
Tudo o que tenho é uma voz. E eu não vou calá-la.

O sinal abriu. Ele me olha, mas vou embora.
Sou mais uma a deixá-lo.

"não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isto devo te dar."


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